Conectando projetos de sustentabilidade e ESG: Brasil, Portugal e EUA

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No II Fórum Internacional eureciclo recebemos convidados de diferentes países, complementando a visão sobre Sustentabilidade, ESG e Economia Circular ao redor do mundo. Confira!

Primeiro, entenda o cenário de sustentabilidade e ESG no Brasil 

No painel do segundo dia do II Fórum Internacional eureciclo, Romero Rodrigues, Sócio-diretor da Redpoint eventures e ex-CEO do Buscapé Company, e Mariana Cançado, Head de Sustainable Wealth da XP Private e sócia da XP Inc, representaram o Brasil na discussão sobre ESG, investimentos sustentáveis e empreendedorismo.

Mariana Cançado, com a expertise sobre ESG, fez alguns questionamentos fundamentais para ampliar esse conceito, que basicamente diz respeito aos fatores ambientais, sociais e de governança corporativa, norteadores de investimentos e do desempenho das empresas.

Em sua fala, a executiva iniciou com a pergunta: “Será que dá para fazer uma transformação na sociedade e implementar mudanças mais sustentáveis por meio do capital financeiro, via investimentos e via empresas?”. E a resposta é sim!

Os fluxos de capital podem levar a investimentos que contribuam com um mundo mais sustentável. ESG, na realidade, não é um termo novo e foi citado pela primeira vez em 2004 em um Relatório da Organização das Nações Unidas. 

A ideia foi a de estimular as empresas a incluírem esses 3 aspectos em suas operações e de criar um framework para o mercado financeiro, demonstrando que o ambiental e social tem impacto e as organizações precisam ter em vista os riscos e oportunidades que esses três pilares podem gerar.

Com a pandemia, inclusive, houve um boom dos investimentos com esse olhar, segundo Mariana. Para ela, o mercado havia sido míope até então, pois o foco estava em olhar fatores macroeconômicos e concorrentes, e a partir do momento em que o tema ESG ganha cada vez mais força, há uma análise mais sistêmica e holística para os investimentos.

Nesse sentido, outro questionamento abordado por Mariana é: “Como utilizar a influência como alocador de recursos para impulsionar os investimentos sustentáveis?”. 

Um dos caminhos apontados por ela é de os investidores criarem listas de exclusão, como não investir em determinados temas ou setores, ou até fazer uso do engajamento e do poder enquanto investidor, participando de conselhos e empresas e auxiliando essas organizações a avançarem na pauta ESG.

Outra alternativa são os investimentos temáticos, que priorizam temas centrais para o futuro, um filtro de fato para selecionar empresas que lidam diretamente com economia circular e diversidade, por exemplo.

Qual a relação do ESG com o empreendedorismo?

Hoje estamos vivenciando uma verdadeira transformação tectônica do mercado financeiro, como diria Mariana, e assim, precisamos de todos os tipos de investidores: pessoas físicas e jurídicas para alavancarem a pauta da sustentabilidade.

Como as gerações atuais cobram esse tipo de posicionamento, todos os públicos acabam tendo um papel decisivo no que diz respeito à sustentabilidade. Para Romero Rodrigues, o consumidor direciona como as empresas vão se comportar, justamente pelo posicionamento e exigências dos clientes que recaem sobre as marcas.

Durante sua fala, o sócio-diretor da Redpoint eventures conta inclusive, que teve uma escolha delicada durante sua carreira: a de mudar sua atuação de empreendedor para investidor. Com essa estratégia, ele cita que desenvolveu um conceito que chama de “futurologia”, para tentar captar as mudanças da sociedade e assim, estar ao lado de outros empreendedores que estão tentando resolver grandes problemas da humanidade.

No cenário pós-pandemia esse cenário ficou ainda mais suscetível, já que houve um aumento considerável dos usuários com acesso à internet. Ao mesmo tempo, as pessoas começaram a redesenhar as relações que possuem, seja pessoa-pessoa, pessoa-planeta e pessoa-coisas.

Com esse redesenho, abriu-se uma série de novas oportunidades, já que as pessoas estão mais abertas para temas como resíduos, emissões de Co2, economia circular. Algumas das startups que surgiram recentemente e na última década tiveram justamente essa perspectiva, que na visão de Romero Rodrigues seriam startups enablers, ou facilitadoras, de ESG.

Esse é o caso de cleantechs, ou startups de tecnologia limpa, como a eureciclo, que surgiu em 2016 para lidar com uma problemática ambiental e social, a destinação final de embalagens geradas por empresas. Em 2016, trouxemos para a América Latina o conceito de compensação ambiental de embalagens, e somos hoje a maior certificadora de logística reversa do Brasil.

Pensando nas particularidades do Brasil, de acordo com ambos os convidados, deveríamos ter uma ESG pautada no local, nos desafios vivenciados por empresas e cidadãos e muitos desses desafios prioritários são sociais. 

As oportunidades de investimento podem estar conectadas então à moradia digna, à educação para maior qualidade de vida, partindo do questionamento: “os seus investimentos estão servindo a que?”.

Como a economia circular está sendo abordada nos EUA?

Para Romero Rodrigues, a economia circular é um caminho para combater desigualdades sociais, solucionando muitas questões com tecnologia e uma economia pautada em reaproveitar os resíduos.

O mesmo pensamento é partilhado por Denise Braun, sócio-fundadora da All About Waste, empresa de consultoria focada em soluções para a economia circular e de resíduo zero. A representante de uma empresa americana no segundo dia do II Fórum Internacional eureciclo relata que a economia circular é na verdade o futuro e já o presente, com os avanços obtidos no país e no mundo.

A economia circular deveria ao menos ser o presente e a realidade para diversas empresas, porque incentiva o mercado local, ao lidar com o resíduo gerado na própria região, estimulando ainda, mais empregos e renda para a população do entorno.

Na carreira de Denise, o tema começou a ser observado a partir das certificações LEEDs (Leadership in Energy and Environmental Design) no Brasil, atribuídas a prédios e outros estabelecimentos que tenham práticas sustentáveis, e pelo gargalo que a executiva percebeu no que tange os resíduos em geral, e especialmente, os resíduos da construção civil. 

Já nos Estados Unidos ela teve contato com a certificação de empreendimentos utilizada no país, que visa a certificação de empreendimentos, fábricas, estádios de futebol, incentivando que haja uma destinação correta, desviando assim, os resíduos gerados de incineração ou aterros.

No caso do mercado americano, a sócia-fundadora da All About Waste diz que a receita para atingir a economia circular consiste no papel ativo dos consumidores, somado ao fluxo natural da concorrência e relação entre as organizações.

Um aspecto importante para Denise são os grandes geradores de resíduos. Para ela, apenas com uma atuação profunda, a cadeia produtiva se movimentará em um ritmo apropriado. 

O exemplo que ela ilustra é o da relação entre um escritório com uma fábrica de refrigerantes. Caso esse escritório tenha uma alta demanda dos refrigerantes e a direção solicite que o refrigerante seja envasado em latas de alumínio – que possuem alta taxa de reciclabilidade e rentabilidade -, os concorrentes desse produtor poderão se inspirar a fazerem o mesmo.

Já para os consumidores, com base em sua vivência em solo estadunidense, o recado é demandar transparência, promover a mesma consciência para outras pessoas e incentivar mais iniciativas de economia circular, começando pelo seu entorno.

O que Portugal tem a nos dizer sobre inovação e mensuração de impacto ESG?

Mesmo que as empresas direcionem seus esforços para a sustentabilidade, o consumidor pode não assimilar tudo que está sendo realizado, se não tiver a consciência necessária. Essa é a opinião de Ana Ferreira, Senior Client Success Executive da Beta-i, empresa aceleradora de negócios com foco no impacto, e palestrante do II Fórum Internacional eureciclo.

A executiva de Portugal trabalha atualmente em uma consultoria de inovação e percebe os desafios como esse apontado acima diariamente.  No caso do ESG, o maior desafio segundo Ana, é que há mais de 20 anos as empresas, especialmente na Europa, começaram a se inteirar sobre a temática, mas não concretizaram a medição de impacto.

Os próprios fundos e bancos, de acordo com Ana Ferreira, estão percebendo a importância de terem esses dados consolidados e a inovação surge assim, como uma grande aliada para compreender melhor esse mercado. 

Em sua apresentação, Ana citou 7 gargalos do mercado que já carecem de maiores dados e referência sobre ESG:

  1. Facilitadores, ou “enablers”, de Tecnologia
  2. Provedores de Dados ESG
  3. Relatórios Corporativos
  4. Ferramentas de Portfólios
  5. Sentimento de Mercado
  6. Comunicação com o cliente
  7. Fundos Verdes

Em todos esses nichos há espaço e necessidade de que o tema ESG seja amplamente discutido e aprofundado, para que as empresas além de economicamente viáveis, ganhem escala, levando em consideração a mitigação de riscos sociais e ambientais.

Nem todas as organizações conseguirão colher esses dados. Os dados precisam ser tratados de acordo com a classificação e terem, posteriormente, uma leitura fácil. 

Por isso, é primordial que a pauta ESG seja inserida não somente nas reuniões de grandes empresas, mas também em pequenas e médias, para que haja uma maior difusão sobre esse assunto e assim, produtos mais sustentáveis para um mercado mais consciente.

Todos os elos da cadeia de valor tem que participar dessa abordagem, para validarem essas alternativas que utilizam a tecnologia para o aprimoramento. E mais do que tecnologia, Ana Ferreira encerra sua fala com a seguinte frase: “A partir do momento que nos respeitarmos enquanto indivíduos e ser humanos, é que nossas atitudes serão benéficas para a sociedade e para a economia”.

Conclusão

Cabe a nós então em nossas escolhas, determinarmos qual o futuro que desejamos: um futuro em que a economia circular ganhará cada vez mais espaço; em que as pessoas terão conhecimento e meios necessários para reutilizarem as embalagens e as destinarem corretamente para a reciclagem; um futuro em que mais empresas somam à sustentabilidade e abraçam o movimento ESG.

Como diria Marina Cançado, Head de Sustainable Wealth da XP Private e sócia da XP Inc, “o ESG se antecipa às tendências”. Já há uma série de organizações e pessoas envolvidas em apresentar dados mais consistentes e em promover projetos de sustentabilidade, visando o bem estar das gerações futuras, mas também agindo no presente.

A eureciclo e nossas mais de 4500 empresas parceiras são algumas dessas organizações, comprometidas em fazer parte parte da jornada sustentável, ao compensarem suas embalagens pós-consumo. 

Quer saber mais sobre esse movimento ESG? Junte-se a nós e fale com nossos especialistas em sustentabilidade.

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