Se você acredita que realizar a logística reversa das embalagens produzidas em uma empresa tem um resultado exclusivamente ambiental, precisa entender todo o impacto econômico positivo que esta escolha gera.
Por meio do Certificado de Reciclagem, instrumento que operacionaliza essa compensação ambiental dos resíduos, novas dinâmicas têm surgido na cadeia de coleta e transformação dos materiais – todas elas sendo um incentivo para o aumento da taxa de reciclagem.
E estas dinâmicas foram assunto pesquisado no Caso de Estudo sobre a influência do certificado de reciclagem no aumento das taxas de reciclagem na cidade de São Paulo, apresentado este ano pela École polytechnique fédérale de Lausann (EPFL) e usado como base de dados para as informações que você vai ler hoje.
O tema tem ganhado destaque, afinal, os benefícios do certificado de reciclagem se tornam ainda mais relevantes já que a tendência é que a logística reversa seja ainda mais necessária nos próximos anos.
Primeiro porque com o aumento da população urbana, mais resíduos serão gerados nos grandes centros e, consequentemente, mais verba pública será gasta na coleta e destinação desse material. E segundo, há a influência da Política Nacional de Resíduos Sólidos que responsabiliza quem produz e distribui as embalagens pela compensação ambiental das mesmas.
E como dar o correto fim às embalagens usadas é uma ação e não um discurso por aqui, vamos mostrar como o Certificado de Reciclagem traz vantagens e, assim, influencia positivamente o cumprimento da logística reversa no país.
A situação da geração de resíduos nos países em desenvolvimento
Antes de entender os impactos do Certificado de Reciclagem, é essencial conhecer o contexto no qual nos encontramos hoje.
De acordo com um estudo de 2018 chamado Revision of World Urbanization Prospects from the United Nations, 55% das pessoas vivem em cidades e, em 2030, esse percentual será de 68.4%. Qual é o problema desse aumento?
As cidades consomem 75% de toda energia disponível e emitem cerca de 50% a 60% dos gases do efeito estufa. Além disso, elas geraram juntas em 2016 um total de 2,01 bilhão toneladas de lixo municipal, dados apontados pelo World Bank.
Apesar de ser um centro econômico, é nas grandes cidades onde estão os maiores problemas de energia, infraestrutura, abastecimento de água e, é claro, da geração de resíduos, tanto domésticos, quanto hospitalares e comerciais.
E enquanto os centros urbanos crescem, o total de lixo gerado também. Como mostra o estudo do World Bank de 2018, nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a expectativa é que o aumento na produção de resíduos cresça 3 vezes mais.
Nesse cenário, os custos com recolhimento e destinação do lixo aumentam e recaem totalmente sobre o setor público. Portanto, além dos riscos ambientais e sanitários, repensar o reaproveitamento de materiais é crucial e urgente.
A coleta seletiva e a reciclagem no Brasil
Um ponto positivo é que 98,8% da população brasileira tem a coleta de lixo realizada em sua residência – responsabilidade do governo local, que pode ser feita pelo próprio município ou contar com uma operação terceirizada. Ainda assim, a coleta seletiva acontece em apenas 22% a 26,9% das cidades brasileiras, conforme mostra o Sistema Nacional de Informações sobre Resíduos Sólidos – o SINIR.
Vale ressaltar que os números sobre coleta seletiva não são tão confiáveis assim, uma vez que os catadores e cooperativas que realizam este trabalho muitas vezes são informais e, por isso, não geram informações para as estatísticas.
A cidade de São Paulo, que exige o uso do Certificado de Reciclagem, tem a maior taxa de coleta seletiva, chegando a abranger 80% da população. Porém, o que é reciclável de fato chega a 43,5% do que é recolhido, de acordo com o SINIR.
O aproveitamento de apenas uma parte do material reciclável que é recolhido acontece porque ele pode vir sujo, molhado e misturado aos não recicláveis, o que pode impossibilitar a separação. É exatamente por isso que mais homogêneo o material, mais caro ele é.
E quando falamos sobre o preço dos recicláveis, sua negociação e esse mercado como um todo, é impossível não falar sobre o Certificado de Reciclagem.
O Certificado de Reciclagem e seus benefícios para a logística reversa
O Certificado de Reciclagem é um instrumento legal, útil como comprovação para as empresas que cumprem com a logística reversa. O que é emitido pela eureciclo, por exemplo, é um documento válido e requerido em alguns estados do país.
Ele é uma forma de facilitar a negociação, venda e compra dos materiais recicláveis entre as cooperativas de reciclagem e empresas que precisam cumprir suas metas de logística reversa (22% do volume das embalagens colocadas no mercado).
E o estudo de caso realizado em São Paulo, trouxe insights interessantes a partir de entrevistas com especialistas em reciclagem:
Como reportado por 10 dos 11 entrevistados, a aplicação [do certificado] é um fator chave no cumprimeto da lei e do consequente aumento das taxas de reciclagem – especificamente, para aumentar as taxas de reciclagem de embalagens inspeções rigorosas na produção delas são necessárias para validar se atingiram as metas. Isso fará com que [as empresas] busquem alternativas para garantir a logística reversa. Uma das alternativas são os certificados.
A seguir, entenda o uso do certificado de reciclagem na prática.
Como o certificado de reciclagem funciona?
Embalagens são produzidas e comercializadas no mercado. Depois, são descartadas pelo consumidor. A partir daí, um volume de embalagens equivalentes (de mesmo material) é recolhido, separado e vendido para as companhias que reciclam. Através da compra dos certificados, as empresas investem nos operadores que realizam a coleta e triagem desses materiais. Por meio de todo esse processo, ocorre o cumprimento da logística reversa.
O certificado de reciclagem atesta esta ação. Ele traz as informações sobre o tipo e a quantidade de material que o agente reciclador vendeu à empresa que tem a obrigação de fazer a logística reversa.
Esse processo acontece da seguinte forma:
- o agente reciclador, que pode ser uma cooperativa ou operador, por exemplo, compra o material a ser reciclado dos catadores;
- o material vendido ao reciclador gera uma nota fiscal e preço do material;
- a eureciclo, no papel de certificadora, realiza testes estatísticos na Receita Federal para validação das notas fiscais e garantia de não colidência (a mesma nota fiscal ser comercializada para outras empresas);
- os certificados são vendidos de acordo com a oferta de embalagens destinadas à reciclagem e demanda de certificados por parte das empresas que comercializam bens de consumo. Desse modo, se um material é fácil de ser recolhido e reciclado, sua taxa de reciclagem será maior e seu certificado será a um preço mais baixo.
Além dos certificados trazerem transparência e rastreabilidade dos recicláveis, especialmente quanto ao tipo e à quantidade do material, essa dinâmica influencia positivamente a cadeia de reciclagem, inclusive sua base, formada pelos catadores e cooperativas.
Como fica claro no estudo citado na introdução, “A vantagem da transferência por meio da compra de certificados em relação as outras iniciativas de logística reversa – como fomento a cooperativas, instalação de pontos de entrega voluntária, logística reversa dos próprios produtos, entre outra – é que a compra do certificado é um investimento direto. Ou seja, a empresa compra exatamente a quantia necessária para cumprir sua meta. Ao contrário de outras alternativas, onde o investimento é feito de forma indireta e não há garantia de qual será a quantidade de material reciclável”
Entenda estes benefícios:
Aumento da formalização dos agentes recicladores
Há pouca formalização – o registro como empresa – entre grupos essenciais para a realização da logística reversa, que são os catadores, intermediadores e cooperativas. Isso ocorre por toda a burocracia e custos envolvidos para isso.
No entanto, apenas os atores da cadeia de reciclagem que estão formalizados podem participar das concorrências pelos certificados, já que ele também é validado pela emissão de nota fiscal.
Ao se registrarem, as cooperativas passam a ter mais chances de chegar às grandes empresas, as quais possuem o poder de compra do material a ser reciclado, gerando a demanda necessária.
Outro ponto positivo para quem se formaliza é a renda extra a partir da venda de certificados de reciclagem, uma vez que estarão em contato com mais empresas que precisam do serviço e também porque os materiais que são mais complexos de separar e transformar terão preços mais altos.
Além disso, a facilidade que os catadores e as cooperativas ganham ao ter um melhor controle financeiro, ter suporte do governo, empresas e ONGS e ainda ganhar escala (uma vez que empresas terão mais segurança em fazer negócios) são incentivos à formalização, somado ao aumento de fiscalização que coloca em risco o trabalho informal.
Com mais atores da cadeia de reciclagem com um CNPJ, haverá mais espaço para negociação entre empresas e, então, o aumento na taxa de reciclagem.
Essa consequência é possível porque, com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos entrando em vigor, a fiscalização e o acompanhamento de dados se tornarão cruciais e obrigatórios em todos os municípios.
Vale lembrar que apenas quem pode adquirir e vender notas ficais é que consegue melhores preços pelos resíduos. Um bom exemplo é o vidro, material para o qual o certificado de reciclagem pode aumentar seu valor em até 50%, como verificado no Case Study of the influence of recycling certificates on the increase in recycling rates in the city of São Paulo.
Assim, o certificado induz a formalização dos agentes principalmente se o custo adicional pela venda do material for maior do que o custo de se registrar como empresa.
E toda a sociedade ganha com a formalização dos atores na base da cadeia de reciclagem. Grandes empresas estarão mais seguras em fazer negócios, as cooperativas terão mais espaço e apoio no mercado e o setor público contará com dados mais confiáveis sobre a compensação ambiental dos resíduos gerados.
Aumento da receita para os agentes recicladores
Nesse cenário, a maior formalização dos agentes recicladores contribui com o aumento da receita deles. Consequentemente, notamos também uma maior taxa de reciclagem.
Mais renda na base da cadeia de reciclagem pode ser um ativo usado de várias formas: remunerar melhor os catadores, adquirir mais material que eles coletam, contratar mais e também investir no aumento da operação, por exemplo.
Algumas cooperativas participantes das concorrências no estado de São Paulo usaram a renda extra para poder reciclar mais e ampliar sua atuação. A Salmeron adquiriu maquinário para aumentar a capacidade de reciclagem. A Recitotal investiu em um caminhão para o transporte dos resíduos.
E com as novas legislações sobre a obrigatoriedade da logística reversa para parte da produção de embalagens, o aumento da renda para as cooperativas e catadores é uma realidade. Afinal, uma empresa tem uma obrigação legal a cumprir nesse caso e pode fazer isso de várias maneiras.
Quem gera e distribui embalagens que se tornarão resíduos após usadas, pode sim criar rotas de logística reversa, encorajar cooperativas de catadores ou instalar pontos de coleta de suas embalagens. No entanto, a comprovação da compensação ambiental por meio do certificado de reciclagem é o jeito mais simples de cumprir a lei.
Sem contar que comprar o material das cooperativas via certificado é vantajoso para o mercado, visto que isso acontece sem subir o preço dos materiais:
Pagar os catadores pelos certificados é mais vantajoso do que tentar compensar artificialmente subindo os preços dos materiais reciclados.
Segundo informações da Cert, aumentar o preço dos recicláveis também geraria um aumento da taxa de coleta, o que acarreta em custos extras para todos os envolvidos na logística reversa.
Incentivo para a reciclagem de materiais pouco reciclados
Todos os materiais de embalagens têm a mesma meta de reciclagem, mas alguns são mais simples de serem reciclados, enquanto outros não.
Em um cenário sem a necessidade da compensação ambiental por parte das empresas que geram as embalagens, apenas os de fácil reciclagem seriam transformados.
Com o certificado de reciclagem essa história muda.
Um item fácil de coletar e processar será mais reciclado e seu certificado será a um preço mais baixo. Dessa premissa surgem 2 vantagens: há incentivo financeiro para os materiais mais difíceis de serem reciclados e há estímulo para os fabricantes produzirem embalagens feitas de materiais mais facilmente recicláveis (já que a compra pelo certificado ficará mais em conta).
Facilita a gestão da compensação ambiental pelas empresas
Mais uma influência positiva do uso do certificado de reciclagem que colabora com o aumento da logística reversa é a facilidade de gestão da sustentabilidade que ele agrega às empresas.
Além da empresa poder terceirizar a operacionalização da logística reversa, ela consegue acompanhar isso, comprovar legalmente e ainda ter dados corretos sobre os tipos e quantidades de materiais que foram para os recicladores.
Os dados gerados em logística reversa também podem ser usados para apresentar aos consumidores, fornecedores e até investidores como comprovação de comprometimento com o meio ambiente.
O aumento do uso do Certificado de Reciclagem
Se são tantos os benefícios que aumentam a logística reversa, o que falta para o Certificado de Reciclagem ser amplamente adotado?
Primeiro é que a política ambiental nos países em desenvolvimento como o nosso ainda está no início de sua construção. Em um primeiro momento, o objetivo da coleta de lixo era uma ação puramente com fins sanitários e de saúde. Hoje é reconhecido que o custo de sempre produzir novos materiais e arcar muito com a destinação e problemas causados pelo lixo é um problema a ser evitado.
O segundo entrave é que nem todas as cidades têm coleta seletiva e, mesmo naquelas que já a possuem, pouco material chega às cooperativas pela falta de higienização, descarte e transporte adequados.
À medida em que as leis se consolidam e a fiscalização local aumenta, esses pontos vão sendo desenvolvidos e mais empresas aderem à logística reversa.
Pela consciência ambiental que se fortalece nos consumidores, diversas empresas já optam pela logística reversa não apenas como meta legal ou obrigação. E esta escolha automaticamente colabora com todos os pontos citados acima.
Você faz a logística Reversa pelo Certificado de Reciclagem?
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Saudações Sustentáveis!
Bom Dia a todos que fazem a eureciclo.com.br, nesta quinta feira, dia 28/01/2021.
Sou, Joaquim Felipe dos Santos Filho, tenho 61 anos, moro em Natal RN e estou concluindo o curso GGIRS, do Virapuru Training Center, com mentoria do professor Gleyson B Machado. Reconheço que estou um pouco atrasado nos meus estudos, uma vez que a previsão era concluir até dezembro de 2020, pois divido o tempo entre o trabalho e os estudos, mais algumas adversidades concorreram para tal mudança. Preciso dizer que desde a mais tenra idade, eu vivo incomodado e impaciente com tudo que agride o nosso planeta, o meio ambiente que é a nossa casa. Sabendo da evolução que os países da Europa vivem na excelência da política de resíduo sólidos eu me pergunto; porquê ainda não conseguimos avançar mais nesse seguimento? Porquê deixamos para trás mais de dez anos da PNRS, sob a lei 12.305/2010 e da diretiva 2008/98/CE? Por favor me ajudem; me digam se eu posso ser útil a vocês e claro, contribuir com a preservação ambiental, mesmo agora, digo, antes de concluir o meu curso. Depois de GGIRS ainda falta o CORE, o Gravimetria, o PGRS o PIGRS para maís conhecimento, amplitude e visibilidade.
Sou de uma Cooperativa de Reciclagem, e preciso me qualificar mais. Como voces poderão me ajudar?
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