Você sabe como o COVID-19 está afetando a cadeia de reciclagem?

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No cenário atual de pandemia do COVID-19, isolamento social e crise econômica, há necessidade de refletirmos sobre o que não podemos abrir mão e sobre o que precisamos melhorar para o futuro. E a reciclagem é definitivamente um ponto que precisamos melhorar.

No Brasil, onde 80% dos materiais reciclados passam pelas mãos de um catador e de cooperativas de triagem manual, o impacto é cruel. Devido ao risco de contaminação, não apenas no contato pessoal, mas também na transmissão através dos materiais, a atuação desses trabalhadores está totalmente comprometida.

Na cidade de São Paulo, responsável pelo maior volume de embalagens descartadas no país, as cooperativas que recebem resíduos da coleta seletiva municipal tiveram suas atividades temporariamente suspensas, medida que faz parte do Plano de Contingência de Resíduos Sólidos da Amlurb. Entretanto, a coleta seletiva porta a porta continua funcionando e os resíduos estão sendo escoados para as 2 centrais mecanizadas da cidade. A Prefeitura também garantiu uma remuneração mensal por até 3 meses para famílias associadas às cooperativas habilitadas no Programa de Coleta Seletiva e mais 1.400 catadores autônomos.

Essas ações são importantes e vão reduzir os efeitos em São Paulo, mas não vão amenizar os impactos a nível nacional, visto que essa não é a realidade do resto do Brasil, que tem somente outras duas centrais mecanizadas. Com isso, é claro que sem a atuação dos catadores e cooperativas, a reciclagem simplesmente é inviável. Então, será que não é a hora de debatermos de forma mais profunda a inserção de novas centrais deste tipo para complementar o trabalho primordial executado pelos catadores e cooperativas além de garantir subsídios para a formalização profissional desses agentes de forma estrutural e não apenas pontual?

Atualmente (até o início da pandemia), reciclamos apenas de 3 a 5% de todos os resíduos produzidos e temos necessidades urgentes de incremento na infraestrutura da cadeia, que tem como maior gargalo a etapa de triagem.

Esse é o momento de percebermos as mudanças necessárias. E uma delas é que os agentes ambientais, tão marginalizados, que coletam e triam a maior parte dos resíduos no Brasil, tenham o seu desenvolvimento pautado por políticas públicas inclusivas que garantam a reinserção dos mesmos em novos modelos tecnológicos. Só assim podemos dizer que vencemos o desafio da reciclagem de forma realmente sustentável

Neste momento, considerando o efeito cascata, a tendência a nível mundial é a redução das taxas de reciclagem. Desta maneira, as indústrias que transformam embalagens recicláveis em matéria-prima reciclada terão menos oferta de materiais e serão diretamente afetadas. A baixa oferta de reciclados pode ser mais uma barreira para o aumento da utilização de materiais reciclados na fabricação de novas embalagens. No Brasil, os reciclados já possuem desvantagens significativas em relação às matérias-primas virgens, principalmente pela falta de incentivos fiscais e outras ações das autoridades.

Percebo que tais impactos não são apenas no curto prazo, mas principalmente no longo prazo. Isso porque a reciclagem tem influência direta no controle da poluição (terra, água e ar), na preservação de recursos naturais, na saúde dos ecossistemas e dos seres humanos.

A cadeia de reciclagem, que já é tão frágil, pode sofrer consequências irreversíveis, se não unirmos esforços para garantir que a atividade seja considerada essencial em nossa sociedade. Vamos juntos?

Artigo escrito por Lucas Barbosa, responsável por Novos Negócios na eureciclo, e originalmente publicado no Linkedin.

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