Descubra a dinâmica da economia circular e sua importância para criação de um mundo mais sustentável.
O Cometa Halley é o que os astrônomos costumam chamar de cometa periódico. Isso significa que de tempos em tempos o cometa passa pela terra tornando-se visível aos olhos nus. Seu ciclo ocorre a cada 75 anos, dando o privilégio à parte da população em vê-lo mais de uma vez em vida. O cometa pesa aproximadamente 220 bilhões de toneladas, e sim, isso é muita coisa!
O Vulcão Etna é um dos maiores vulcões em atividade do mundo. O vulcão está localizado na Itália e suas erupções ocorrem quase que anualmente. As erupções são um processo natural e estão ligadas a um auto-equilíbrio do planeta. A atividade do vulcão emite cerca de 5,8 milhões de toneladas de gases efeito estufa ao ano.
A princípio, pode parecer estranho que um artigo sobre economia circular e desenvolvimento sustentável comece falando sobre a periodicidade de um cometa e atividade vulcânica. A não ser que seu uso seja apenas para efeito de comparação.
Hoje em dia, um dos grandes desafios que se tem no Brasil quando falamos de resíduos é a eliminação de lixões irregulares a céu aberto. Embalagens e produtos descartados de maneira incorreta são eventualmente incinerados ou deixados à beira da decomposição nesses lixões.
Ambos os caminhos são péssimos pois, além de provocarem problemas graves de saneamento e saúde para a população que mora próxima a estes lixões, também emitem uma quantidade estrondosa de gases efeito estufa, como metano e carbono.
Os gases de efeito estufa, quando emitidos além da capacidade do planeta, são grandes vilões do aquecimento global. Estima-se, que anualmente, os lixões no Brasil emitam cerca de 6 milhões de toneladas de gases de efeito estufa. Isso seria como ter um Vulcão Etna de lixo em atividade durante o ano inteiro.
Uma lata de alumínio pode demorar de 200 a 500 anos para se decompor na terra caso seja descartada em um lixão. Uma embalagem plástica, nas mesmas condições, poderá perdurar por cerca de 400 anos. E uma garrafa de vidro tem chances de resistir durante 4.000 anos até se decompor. Isso significa que uma lata de alumínio mal descartada assistirá a pelo menos 2 passagens do Cometa Halley. A embalagem plástica assistirá ao menos a 5 ciclos. E por fim, a garrafa de vidro verá o Cometa Halley passar na terra por longas 53 vezes.
Vejam bem, isso não é um juízo de valor sobre uma embalagem ser mais ou menos sustentável do que outra. Cada material tem suas próprias aplicações e peculiaridades que permeiam o ciclo de vida das embalagens. Os números dizem respeito apenas ao seu tempo de decomposição e por consequência suas emissões de gases efeito estufa.
Enquanto isso, a humanidade produz aproximadamente 2 bilhões de toneladas de lixo ao ano. O que significa que, se continuarmos neste mesmo ritmo, a cada ciclo de passagem do Cometa Halley seremos capazes de lançar um novo cometa em órbita, só que um cometa de lixo. E não, isso não é uma opção!
Quando falamos de números e de anos, é muito comum cometermos a injustiça de não dar-lhes os devidos valores e confundirmos as ordens de grandeza, afinal são apenas números. Gosto de comparar números com coisas que conhecemos, pois desta forma eles se tornam mais palpáveis.
Fato é que quando estamos falando de números na questão de resíduos, estamos falando de eventos extremos que se tornaram parte de nosso cotidiano nos últimos anos. Ilhas de plástico, catadores em condições marginalizadas, e imagens de animais marinhos presos em resíduos nos oceanos são apenas algumas das cenas que viraram rotina na última década. E por isso, não são apenas números.
A primeira vez que se definiu Desenvolvimento Sustentável, foi em 1987, ano de uma grande erupção do Vulcão Etna, e exatamente um ano depois da última passagem do Cometa Halley – veja quanta coincidência!
“O desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.”
Na época, havia um grande conflito entre economistas e ambientalistas de como conciliar o desenvolvimento econômico das nações e corporações com as pautas ambientais que vinham sendo levantadas. A ONU resolveu o embate.
Os anos seguintes foram sucedidos de uma série de Conferências Ambientais e compromissos diplomáticos para frear os impactos da atividade industrial no meio ambiente e, ao mesmo tempo, atenuar as desigualdades econômicas entre os países.
No entanto, as poucas ações práticas e a falta de atualização de algumas agendas fez com que estas Conferências começassem a ser contestadas a partir da Rio+20, ocorrida em 2012. A resposta dos internacionalistas às críticas veio três anos depois através da Agenda 2030.
A Agenda 2030 trouxe consigo um plano contendo 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS). O plano foi dividido em 169 metas a serem seguidas nos 15 anos seguintes. Mais do que um chamado universal para cidadãos, empresas, e governos reconhecerem seus papéis e articularem seus interesses em torno de uma agenda sustentável, os ODS formam um manifesto em prol de um mundo melhor.
A agenda internacional possui sua importância, afinal envolve os grandes tomadores de decisão globais. No entanto, é impossível deixar de tratar essa agenda como um reflexo do inconformismo recorrente da sociedade frente a problemas ambientais e sociais.
Apesar de não dar nome a nenhum dos ODS, as consequências da geração de lixo afetam diretamente cada um deles. Sendo assim, é importante analisarmos o problema e buscarmos soluções efetivas e criativas.
É exatamente isso que a economia circular propõe. O termo foi batizado pelo livro Cradle to Cradle (do berço ao berço) unindo conhecimentos interdisciplinares da engenharia, design e economia para tornar o atual ciclo de vida dos produtos mais eficiente, prolongado e sustentável.
Os autores chamam o fluxo atual de modelo linear, onde um recurso finito é extraído e transformado ao longo da cadeia até se tornar um produto, ser consumido e enfim descartado:
A exploração irrestrita de recursos finitos, o consumo excessivo de energia e o descarte inconsciente de resíduos tornam este modelo insustentável no longo prazo.
O novo modelo, chamado de Economia Circular está sustentado basicamente no desenvolvimento de 4 processos:
- Manutenção do produto, para evitar seu descarte;
- Reutilização do produto por outros consumidores (mercado de usados, por exemplo);
- Restauração dos componentes do produto para que estes se tornem um produto novo;
- Quebra de materiais em micro-materiais para a remanufatura, ou também chamado de reciclagem.
Os processos têm por objetivo usar menos recursos assim como evitar o descarte desnecessário. A sua inovação está em sua simplicidade, eis o motivo de ser tão genial.
As iniciativas e méritos para que este modelo ganhasse relevância global são diversos, porém uma merece destaque. A velejadora britânica Ellen MacArthur, que já era conhecida mundialmente por circum-navegar a terra em tempo recorde, fundou em 2009 a Ellen MacArthur Foundation. A fundação é protagonista na liderança de pautas ligadas à economia circular e na articulação de stakeholders.
Tanto a Ellen MacArthur Foundation como os escritores do Cradle to Cradle, defendem que a transição para um modelo circular só será possível com a aplicação tecnológica.
As revoluções industriais anteriores trouxeram incontáveis progressos para a humanidade, mas junto com eles contribuíram para a destruição da camada de ozônio, a emissão de gases efeito estufa, e a deterioração do trabalho.
A revolução da Indústria 4.0, das criptomoedas, machine learning e internet das coisas, abre um oceano de oportunidades para que novas tecnologias de processamento de materiais e rastreamento de dados possam emergir. Ao mesmo tempo que possibilidades escaláveis são criadas, concilia-se desenvolvimento tecnológico com impacto socioambiental.
A primeira Conferência Ambiental reuniu 113 chefes de estado em Estocolmo em 1972. Ellen deu a volta ao mundo em 2005 compreendendo a preciosidade do nosso planeta. Governos se comprometeram a reduzir sua pegada de carbono até 2050 no Acordo de Paris. O topo do Vulcão Etna está a 3.350 metros da superfície. E a próxima passagem do Cometa Halley será em 2061. No entanto, me parece que existem soluções muito mais próximas de nós do que tudo isso.
Muito original seu Artigo. Parabéns
Parabéns pelo conteúdo deste blog, fez um ótimo
trabalho!
Gostei muito.
um grande abraço!!!