Por que o Brasil recicla tão pouco?

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Entenda quais fatores colaboram para os baixos índices na cadeia de reciclagem do Brasil.

Acho que esse não é um assunto claro para todos que trabalham com produtos e embalagens. Bom, para mim não era.

Quando comecei a trabalhar com resíduos, as informações pareciam contraditórias, e é um quebra-cabeça mesmo. Algumas fontes falam que a taxa de reciclagem é de 3%, outra diz que é 5%.¹ Apesar da falta de consenso nos dados, uma pergunta continua: por que, afinal, se recicla tão pouco?

No Brasil, a coleta de lixo regular é de 91%² e a coleta seletiva é limitada. O dado divulgado é que a coleta seletiva atinge 21% dos municípios, porém, o que esse número não conta é que, se um bairro tiver coleta seletiva, o município consta como atendido.

Pensando em custos, a coleta seletiva é no mínimo 4 vezes mais cara, e depende da infraestrutura, investimento dos municípios, da conscientização e ação da população.

Outro ponto desse quebra-cabeças é que os contratos de coleta regular acabam competindo com a reciclagem, porque são remunerados pelo volume de lixo aterrado. Não há incentivo e nem obrigatoriedade da empresa que faz a coleta para separar os materiais recicláveis.

Então, praticamente sem coleta seletiva, dos tais 3 a 5% de materiais que são reciclados, cerca de 80% passou pelas mãos de um carroceiro ou catador. São 800.000 catadores no Brasil, mal recompensados pelo serviço ambiental que realizam.

Tendo em vista os números, o plano para aumentar a taxa de reciclagem não pode ser ter 8 milhões de catadores.

Para atender grandes municípios, existem as centrais mecanizadas para triagem de resíduos, com alta capacidade de separação de cada tipo de material. Porém, atualmente no Brasil temos apenas 4 instalações mecanizadas. Como referência, na Espanha são 95.

E por fim, ainda temos o material e o design das embalagens, e o valor de venda do material.

O alumínio, por exemplo, tem boa taxa de reciclagem porque toda a cadeia é economicamente viável. Faz sentido para o catador, para o sucateiro que faz a logística, para o reciclador e indústria. Uma tonelada de alumínio é vendida para o reciclador por cerca de R$4 mil. Mas… o alumínio representa apenas 0,5% do resíduo descartado.

Já a tonelada do PET transparente, vale um pouco mais de R$2 mil, e o valor dos materiais vai decrescendo até chegar no vidro, que é de R$140 por tonelada e tem uma logística complicada.

Vale lembrar que os catadores e cooperativas são remunerados apenas pela venda do material, por isso não há incentivo para separar materiais de baixo valor, mas que poderiam ser reciclados.

Então, muitas cadeias de materiais não param de pé, e em alguns casos nem existe tecnologia viável para a reciclagem, como no caso das embalagens de salgadinhos.

Esses pontos não esgotam todos os ‘por quês’, mas resumem as questões de:

  • coleta seletiva ainda muito limitada;
  • não possuímos uma infraestrutura robusta para triagem;
  • muitas embalagens com o símbolo de reciclável são recicláveis somente na teoria (pela viabilidade da cadeia).

Apesar dos desafios, o lado bom é que tem solução, na verdade diversas soluções simultâneas.

Vou deixar como idéia para um próximo texto 🙂

Boa reciclagem!

Artigo escrito por Tânia Sassioto, diretora de Projetos & Negócios na eureciclo


* fonte dos dados:
¹ IPEA e Abrelpe (3%) e SNIS (4,95%)
² relatórios do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada


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